quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A ansiedade que me acompanha



Lembro claramente do dia em que passei no vestibular. Já vinha tentando há 2 anos, sem sucesso.  Naquele terceiro ano, já tinha sido reprovada na faculdade estadual e aguardava o resultado da federal. Meu curso só era oferecido nessas duas faculdades.
Paralelamente, vinha pensando que já fazia 3 anos que estava fazendo cursinhos pré-vestibular, estudando os mesmos assuntos, já estava chegando no meu limite e decidi que, caso não passasse novamente, continuaria tentando nos anos seguintes, mas não iria fazer cursinho indefinidamente. Então me inscrevi no vestibular de uma faculdade particular, para o curso de psicologia. Era um curso que me despertava interesse e achava que seria bom estudar o assunto, enquanto não chegava o vestibular do ano seguinte. O resultado saiu antes do da federal e eu passei. Pior, passei em 2º lugar. Pensei que um resultado como esse iria me tranquilizar, mas não foi isso que aconteceu. Minha ansiedade aumentou. E se eu me apaixonasse pelo curso? E se me acomodasse com a vida universitária e ficasse desestimulada pra estudar para o vestibular? Eu sabia que precisava atingir meu objetivo e cursar medicina, pois, caso contrário, não iria tolerar bem as dificuldades e frustrações inerentes a qualquer profissão. Sempre iria pensar: “Se eu fosse médica, isso não aconteceria.” “Se eu fosse médica, as coisas seriam diferentes.” “Se eu fosse médica, seria mais feliz.”
Nas vésperas da divulgação do listão da federal, já tinha me programado. Queria ir ver o listão, lá no cursinho, mas só iria à noite, algumas horas após a sua divulgação. Não estava disposta a me deparar com aquelas manifestações de emoção tão contraditórias. Colegas gritando de alegria, outros tendo crises de choro, uns pulando e se abraçando, outros fugindo cabisbaixos. Não queria viver aquilo novamente.
Chegado o dia do listão, estava com meu pai em um shopping. Íamos pegar minha mãe, que nos esperava na casa de Vovó para depois voltar para casa. Quando entramos no carro, liguei o rádio e ouvi uma vinhetinha, a música característica e aquela ladainha. “Caro Fera, daqui a pouco será feita divulgação do listão da Federal. Ele já saiu da COVEST e está seguindo para... blá, blá, blá...” ENLOUQUECI!!!!
- Pai, vamos AGORA ver esse listão!
- Mas você não disse que só queria ver mais tarde?
- Aguento não! Vamos agora!
- E sua mãe? Se a gente for sem ela, ela não vai gostar.
- Então vamos buscá-la, mas bem rápido.
Fomos para a casa de Vovó. Ao chegar lá, ela estava com a manicure, pintando as unhas.
- Vamos! Vamos! Bora!
- E eu vou sair com uma unha pintada e a outra não?
- Então vai logo!
E fiquei numa ansiedade monstra. De minuto em minuto, perguntava: “Acabou?” “Vamos?”
Enfim, fomos! Ao chegar no cursinho, encontrei um colega que me deu um abração e saiu me puxando pelo braço, em direção ao local do listão, dizendo que tinha uma coisa pra me mostrar. Era o meu nome entre os aprovados em medicina, na UFPE. Minha reação foi ler, reler, conferir nome, curso, número de matrícula... Meu pais começaram a me abraçar, mas não consegui me alegrar. Era difícil de acreditar. Depois fui me acostumando com a idéia aos poucos e fui me alegrando.
Hoje fiquei lembrando dessa história porque amanhã vou fazer o exame de sangue pra saber se estou grávida. Fiz a Fertilização in Vitro há 14 dias e desde então venho me mantendo em repouso e aguardando esse momento, de fazer o β-HCG. Hoje, estou com a cabeça bem organizadinha, sem muita ansiedade, sabendo que o resultado pode ser negativo e o mundo não vai acabar por isso. Porém sinto que provavelmente isso não vai continuar assim, como aconteceu na época do vestibular, quando todo o meu auto-controle foi por água a baixo e eu me entreguei à ansiedade e à emoção.
Sendo assim, o dia de amanhã promete! Então que venha.


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